terça-feira, 5 de outubro de 2010

Analisando os salários pagos aos Profissionais Engenheiros!

Vamos analisar como andam os salários pagos aos profissionais Engenheiros do Plano Real para cá. Todos sabem que com a instituição do Plano Real, ficaram proibidas todas e quaisquer indexações ao salário mínimo. A Lei 4950-A, de abril de 1966, que dispõe sobre o salário mínimo do profissional de engenharia, foi uma das poucas, senão a única, que através de liminares e interpretações jurídicas, conseguiu manter-se viva após o plano real. Para uma jornada mínima de 6 horas diárias, o engenheiro deverá receber 6 salários mínimos nacionais. Fazendo-se as contas para uma jornada tradicional de 8 horas diárias, chega-se a 9 salários mínimos, equivalente a R$ 4.590,00. Também por interpretações jurídicas, sabemos que muitas instituições públicas não pagam tal salário, principalmente prefeituras pelo Brasil afora.


Voltando no tempo, há uns 20/25 anos atrás, era comum a administração de cargos e salários tratar os engenheiros com a utilização de um método denominado Curva de Maturidade. Essencialmente, a chamada Curva de Maturidade, consistia na aplicação de métodos que visavam ponderar financeiramente, o binômio formado pela escolaridade e pela experiência. Não faz referência direta às responsabilidades da posição ou às atribuições específicas, pelo contrário, sua proposta é que o funcionário profissional é uma fonte produtiva, cuja contribuição aumenta com sua maturidade profissional, às suas habilidades e tendências, já manifestas em seu desempenho, e através dos programas de capacitação e desenvolvimento que a ele foi dado. Os conceitos de Curva de Maturidade foram criados por volta de 1930, pelos Laboratórios de Telefones Bell. Lembram-se dos conceitos de Gestão por Competências? Pois é, habilidades, tendências de desempenho destacado, maturidade, conhecimentos adquiridos, remuneração diferenciada,...

A Curva de Maturidade, assim como a Gestão de Competências, permite a elaboração de estruturas salariais individualizadas, apoiadas em três variáveis:

- Salários praticados no mercado
- Maturidade profissional
- Desempenho individual

As informações de pesquisas de mercado não devem ser analisadas por conteúdo, escolaridade e outros complementos, mas sim, por ano de formado e anos de atuação qualitativa, ou seja, anos no exercício verdadeiro da profissão, no caso Engenheiros, que ora abordamos.

Para a ponderação da bagagem profissional, utilizamos o conteúdo de conhecimentos e experiências adquiridas, dentro e fora da empresa, e aplicadas no seu dia a dia de trabalho (não em artigos de revistas acadêmicas que enfeitam a sala do profissional).

Para a análise do desempenho individual é importante observar séries históricas e não um dado momento, para não atrelarmos diretamente à avaliação, o aumento salarial.

A essa altura já podemos perceber a intimidade dos conceitos de Curva de Maturidade com os conceitos de Gestão de Competências. Outro subsídio importante da Curva de Maturidade é a facilidade de associá-la à estruturação das chamadas Carreiras em “Y”.

O atrelamento do salário mínimo profissional de engenheiro aos salário mínimo nacional tem o seu lado bom e o seu lado ruim. Se por um lado, um recém formado contratado como Engenheiro, a preços de hoje, receberia R$ 4.590,00, por outro lado, um Engenheiro bom, na faixa dos 8 anos de atuação qualitativa, deveria receber quanto?

No quadro abaixo, temos uma típica estrutura salarial destinada ao cargo de Engenheiro de uma grande empresa de engenharia de obras de São Paulo (Base Junho/1988).


O salário mínimo à época era de CZ$ 10.368,00, portanto, o valor para a admissão de um Engenheiro recém formado era de CZ$ 93.312,00. No quadro temos como valor para admissão CZ$ 106.044,00, ou seja, 10,22 salários mínimos. Um Engenheiro com 5 anos de atuação/formado ganhava 22,94 salários mínimos, um Engenheiro com 10 anos de atuação/formado ganhava 37,37 salários mínimos e um Engenheiro com 11 anos ou mais, previa como salário máximo de admissão 55,22 salários mínimos.

O Engenheiro com 5 anos de atuação/formado hoje valeria R$ 11.699,40, o de 10 anos R$ 19.058,70 e o com 11 anos ou mais, como salário máximo de admissão, R$ 28.162,20. O valor de admissão para o recém formado se manteve próximo, R$ 5212,20.

Em sã consciência, qual empresa pode pagar ou paga hoje a um Engenheiro bom, com 10 anos de atuação/formado, a faixa de R$ 20 mil? Um com 5 anos, a faixa de R$ 12 mil?

Já que estamos em época de eleição, na campanha de 84/85, um partido político distribuiu um documento denominado "A Engenharia Nacional está em Crise", onde, uma de suas propostas era o estabelecimento de um "Plano de Carreira Profissional nas estatais que levasse em conta a experiência e a qualificação dos Profissionais". Bem atual!


Carlos Alberto de Campos Salles
Consultor de Recursos Humanos
Sempre Independente
carh.consultoria@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentem, da discussão nasce a sabedoria!