terça-feira, 1 de novembro de 2016

Geração Desempregada

As situações citadas na coluna do Walcyr Carrasco, na “Veja São Paulo”, nos leva à reflexão que um dia a festa termina. Acabam-se os brigadeiros e os cajuzinhos.

Os personagens citados não conseguiram elaborar um projeto legal para a sequência de suas vidas. Sabemos que uma Bióloga com trinta anos de pesquisa não se acha na esquina. Será que ela ficou os 30 anos com o mesmo nível de conhecimento em pesquisa, dos primeiros dois, três anos? Lembram-se da teoria da Curva de Maturidade? 

A "vice-presidente" com vários idiomas e elevados conhecimentos comerciais na área de importação/exportação não encontraria seu caminho em consultoria ou no ensino de línguas? A área de Comércio Exterior é cada vez mais crescente e, sabidamente, carente de profissionais. 

O caso do personagem executivo é o mais grave, e ao mesmo tempo, mais saudável. Com o conhecimento obtido tentou criar um negócio próprio no segmento que atuava. Não deu certo. Será que, como executivo, tinha conhecimento absoluto de todas as variáveis de seu mercado de atuação? Procurou orientação do Sebrae ao estruturar o novo negócio?

Sabemos que a idade pode parar um profissional a qualquer momento. Por mais saudável, fisicamente e profissionalmente, que o "cara" seja. São as regras de mercado. Convivi com colegas "madurões", cuja única obsessão na vida era continuar trabalhando. Na mesma área. De preferência no mesmo ramo de negócios, afinal o “cara” é especialista no segmento da siderurgia, da metalurgia, da construção naval ou do varejo. Insistem em enviar currículos e mais currículos em sites de recolocação. O tempo passa, o telefone não toca e a angustia aumenta. "Pô, sou bom naquilo que faço, tenho energia, não sou doente, tô preparado, continuo atualizado e ninguém me chama?"

Chega uma hora que você tem que buscar alternativas para sua vida. Não tem jeito. É assim que a coisa funciona. Faça um mestrado, dê aulas em universidades, dê aulas em cursos de formação profissional de curta duração, escreva artigos técnicos, pratique consultoria, escreva um livro e faça seu plano de marketing pessoal. Você não voltará à sua empresa. Voltar ao mercado de trabalho não é impossível, porém pode ser mais difícil do que você imagina. O artigo abaixo foi postado em novembro de 2009.
Agora vamos à coluna do Walcyr

“Tenho uma amiga bem preparada, inteligente e fluente em vários idiomas. Dirigiu uma grande empresa, em um cargo logo abaixo do de presidente. Ia ao Oriente tratar de importações. Lançou produtos lembrados e copiados até hoje. Há anos está fora do mercado de trabalho. Quando a empresa foi vendida e ela saiu, parecia fácil encontrar novo posto.

Passaram-se os anos, o dinheiro acabou. Aceitou dirigir uma empresa na área de decoração, a qual, por falta de grana, pagou o segundo mês com um sofá e duas poltronas. Desde então faz pequenos trabalhos, terceirizada, sempre à espera de uma oportunidade que não chega. Outra, doutora e responsável por pesquisas sérias na área da biologia, perdeu a cadeira em uma universidade após quase trinta anos de dedicação. Passou os últimos três com o dinheiro recebido. E mais nada! Voltou para a casa da mãe, já idosa, para poder alugar a casa onde morava. Recentemente, peguei um táxi especial. O motorista, um homem de maneiras refinadas (aliás, muito mais do que as minhas), contou que fora diretor-presidente de uma empresa na área de componentes elétricos. Após uma fusão, montou a própria. Não deu certo e fechou.

 - Nunca mais achei emprego! O jeito foi comprar o táxi, pelo menos para comer - contou.

Era o tipo de executivo cuja casa eu poderia ter frequentado anteriormente, que serviria vinho importado e cuja mulher usaria roupas de grife. Após certa idade, com raras exceções, as pessoas são descartadas. Há situações tremendas: nos meus anos de jornalismo conheci um diretor de arte talentoso, que não se adaptou de imediato aos computadores. Perdeu o emprego. Da última vez que tentei ajudá-lo, ele se candidatava a uma vaga de porteiro de prédio.

Às vezes ouço falar de alguém: um ex-grande jornalista hoje escreve como free-lancer, sem renda fixa; um alto executivo põe comida na mesa graças a aluguéis baixíssimos, dos poucos imóveis que restaram; a família que a cada três anos vende a casa onde mora para quitar dívidas e com a diferença compra uma menor; sem falar dos que, aterrorizados pela situação, enfartaram.

Um ritual hipócrita cerca as dispensas, como se houvesse vantagem para o desempregado em explicações do tipo: ‘Estamos reestruturando. ..’. Isso quer dizer que um bando vai para a rua. Ou: ‘Você vai ter a chance de buscar novas oportunidades, se renovar’. Como se alguém ambicionasse chances não remuneradas! E ainda tivesse de sorrir e agradecer a dispensa. Ah, como dói!

Meus amigos têm mais de 50. Boa parte dessa geração ficou desempregada. Vejo outra leva chegando, de quem passou dos 40 e também passou a ser considerado velho. É óbvio que os jovens merecem oportunidades. Mas quem acumulou experiência, conhecimento, não? Uma sociedade incapaz de aproveitar experiências profissionais sólidas é no mínimo cruel. Pessoas não podem ser descartáveis. E não passa um dia sem que um amigo me procure, pedindo ajuda. Mas são tantos, meu Deus! Em que porta bater?

Tive chefes maravilhosos - um deles manteve meu salário quando vim para a televisão, até que eu me sentisse seguro no novo caminho. Seu Ivan, já falecido, era generoso. Mas já fui demitido de surpresa, com a desculpa de que era preciso renovar. E eu não tinha nem 40 anos! É desesperador vender o carro para comer, buscar uma moradia mais barata e viver em agonia pelo mês que vem. Ninguém merece. Principalmente quem sempre deu o melhor de si e tem como única nódoa profissional o fato de já não ser tão jovem”

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